FREUD SEMPRE TEVE RAZÂO!
Nas redes sociais e na imprensa
circulou recentemente uma matéria intitulada: “Teoria de Freud é respaldada por
escâneres cerebrais”. Cientistas da King’s College e da Universidade de
Melbourne afirmam estar convencidos e dão razão ao psicanalista ao apontar que
as lembranças reprimidas são a causa da histeria. Muitos vibraram e suspiraram
aliviados; passados mais de 100 anos, finalmente o veredicto: a ciência reconhece
a razão freudiana! Ora, ora, o próprio Freud foi além dessa dita razão! Triste
de quem acredita que as coisas mais fundamentais da vida são da ordem do ver
pra crer!
Utilizando-se de scanners, os cientistas visualizaram o cérebro de pacientes
portadores de conversão. No momento em que são levados a falar de seu passado,
as imagens de ressonância magnética revelam uma mudança de fluxo sanguíneo para
áreas específicas do cérebro: no caso dos pacientes com conversão, a área mais
irrigada é o córtex pré-frontal, enquanto que nas pessoas “saudáveis”, o
hipocampo é que é a parte do cérebro responsável pela formação das lembranças.
Daí, a conclusão científica de que uma experiência traumática afeta o corpo de
forma a alterar seu funcionamento normal. Dito de outro modo: o trauma cria
outra fisiologia.
As desordens apresentadas pelas queixas e
sintomas femininos são muitas vezes interpretadas como “piti”. Será que
encontrarão categoria nosológica para tal desordem? Não será surpresa se o próximo
passo for a busca de uma droga que possa corrigir, de forma genérica, esse
desvio de função. Isso poderia ser conseguido deletando de vez a memória
indesejada ou, quem sabe, forçando que o fluxo sanguíneo fique no hipocampo, ou
erradicando por meio medicamentoso a insatisfação feminina. Por esse caminho,
surgirão soluções ortopédicas, totalitárias e pouco criativas.
Especulações científicas fantásticas à
parte, o fato é que estudos como esse realçam a genialidade de Freud. Ele, sendo
médico neurologista de formação, debruçou-se sobre o que até hoje recebe certo
desdém da medicina, para, em seguida, criar um tratamento para legitimar o
desejo humano. Descobre que o corpo não respondia de forma padronizada as vias
anatômicas fisiológicas. Entregou-se ao trabalho de construir um aparato para
tratar aqueles de quem não subestimou o sofrimento. Consentiu com um saber que não se sabe. E,
nesse propósito, serviu-se do que há de mais humano, a palavra.
Apostou que se há uma palavra que nos adoece, também há outra, e no limite e
ausência desta, a nossa “cura”. À frente de seu tempo, Freud não esperou para
comprovar localização da histeria no cérebro. Ainda bem, nesses anos todos,
quantas de nós ainda estaríamos nos contorcendo e nos debatendo. Isso sem falar
em outros tantos sofrimentos que puderam ser tratados a partir dessa escuta
inaugurada por ele. E, que nós hoje vivenciamos e temos a oportunidade de
observar o desenvolvimento do trabalho psicanalítico e sua cura.
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