As postagens são feitas por nossa Comissão Científica. Podem ser próprias, adaptadas, transcritas de teóricos ou de sites científicos com publicações de novos estudos, e, teem a finalidade de informar e esclarecer alguns transtornos mentais. Não é diagnóstico final, portanto, procure o seu profissional ou o nosso espaço para maiores esclarecimentos em N. I./RJ com hora marcada: tel- 2669-7562 ou 9644-87280


segunda-feira, 30 de março de 2015

A Psicanálise



A Psicanálise e a  interpretação  de Françoise Dolto

             Sou Psicanalista, leio sempre Françoise Dolto e o que vou lhes contar ocorreu na Maison Verte, instituição parisiense de acolhimento de crianças de zero a três anos, criada pela psicanalista, que é ícone da psicanálise dita infantil.

            Em uma tarde, um casal relativamente jovem chegou para a consulta com cara de desespero. Traziam um bebê nos braços, o qual aparentava uma fraqueza importante. Deveria ter uns três ou quatro meses de vida.

              Dolto, cheia de atenção vigilante e afetuosa, ficou sabendo dos pais que ao desespero diante da criança que não comia razão por estar esquálida, somava-se a preocupação com o desemprego do pai, a sobrecarga da mãe, e as contas que não fechavam no mês. Françoise Dolto se dirigiu diretamente ao bebê, sem qualquer atenção ao fator compreensão, e começou a  explicar, olhos nos olhos, que ela, Dolto, entendia muito bem que ele não quisesse comer, uma vez que sua chegada poderia ser pensada como em má hora, e que o melhor talvez fosse desaparecer. Contestou, no entanto, afirmando que ele estava enganado, pois sendo tão querido e esperado, sua morte precoce retiraria dos seus pais o único efetivo alento naquele momento difícil de vida. E assim se despediu dos três: filho, mãe e pai – marcando um retorno para a semana seguinte.

              No segundo encontro, eram outras pessoas que estavam ali. O bebê estava comendo, e bem. Ao final do atendimento, – como Lacan havia demonstrado no estádio do espelho... – ao falar com o bebê, ela estava realmente falando a seus pais que, por conseguinte, tinham mudado sua posição e possibilitado a alteração sintomática.

          Dolto afirmou então: – eu também conheço o ‘seu Lacan’ e bastante bem. Além de companheiros de toda uma vida, somos mesmo muito amigos. “Agora, que ele o diga com o espelho, é interessante, quanto a mim, digo e mostro – como se vê –os bebês compreendem e sabem falar”.
 



domingo, 15 de março de 2015

Relacionamento



Trata-se de uma necessidade pessoal que se espera seja satisfeita na relação com aquela pessoa que, num dado momento, torna-se o receptáculo das projeções existentes e é idealizada como sendo o nosso complemento ideal, a própria alma gêmea. Na prática, traduz-se por apaixonar-se. Psicanaliticamente, trata-se de uma sucessão de mecanismos projetivos através dos quais se atribui ao outro a tarefa de complementar a relação realizando as aspirações que não são as suas próprias, mas do parceiro.

               É preciso saber que embora tão parecidos às vezes uns com os outros, somos todos essencialmente distintos e precisamos lembrar-nos sempre que nenhum rótulo pode nos classificar de modo a abarcar todo o nosso ser, porque não caberíamos completamente numa definição que já existe para outro fim ou outro alguém. A única possibilidade de identificação de alguém é o seu próprio nome. Qualquer outro rótulo ou acréscimo será secundário e redutor. Isso vale para cada um de nós. Isso vale igualmente para cada uma das demais pessoas. E nos dá a certeza cristalina de que sempre, e em todas as situações relacionais possíveis, estamos nos relacionando com um ser que é único. Essa perspectiva – a de que as pessoas que amamos e cujas atitudes e comportamentos muitas vezes tão familiares são, na verdade, indivíduos a ser conhecido o tempo todo – são de grande utilidade para compreendermos porque ocorrem tantas dificuldades nos relacionamentos, especialmente nas relações amorosas. Somos iguais na necessidade de nos relacionar, o que nos aproxima um do outro, mas, distintos em nossa referência pessoal, o que dificulta a manutenção da harmonia na relação.

             JUNG observa que o jovem – e mais a mulher do que o homem – já tem ao atingir a idade adequada para o casamento, a consciência do “eu” recentemente emergida do que ele chama nebuloso inconsciente inicial. E acrescenta que, para tornar-se consciente de si mesmo, o indivíduo tem, obrigatoriamente, que distinguir-se dos outros. Essa distinção é condição indispensável para o surgimento de um relacionamento.


             Mas ter consciência do “eu” não significa, na prática, total consciência de si. Temos um conhecimento incompleto tanto de nós mesmos quanto dos outros, de modo que nossa compreensão dos motivos que nos movem – e mais ainda dos motivos que movem as demais pessoas – é insuficiente. Por esta razão, muitas vezes somos levados a agir impulsionados apenas por nosso inconsciente, embora tendo a impressão de que sabemos o que estamos fazendo.

         Por isso, quando nos apaixonamos, tendemos a acreditar inicialmente que encontramos a pessoa ideal, possuidora de todos os atributos capazes de despertar em nós admiração, amor e desejo, satisfazendo totalmente as nossas aspirações amorosas. O que não sabemos, nessa fase, é que alguns desses atributos que julgamos serem daquela pessoa são, na verdade, conteúdos inconscientes da nossa própria psique que projetamos na pessoa amada.