Trata-se
de uma necessidade pessoal que se espera seja satisfeita na relação com aquela
pessoa que, num dado momento, torna-se o
receptáculo das projeções existentes e é idealizada como sendo o nosso
complemento ideal, a própria alma gêmea. Na prática, traduz-se por
apaixonar-se. Psicanaliticamente, trata-se de uma sucessão de mecanismos
projetivos através dos quais se atribui ao outro a tarefa de complementar a
relação realizando as aspirações que não são as suas próprias, mas do parceiro.
É preciso saber que embora tão parecidos às vezes uns com os outros,
somos todos essencialmente distintos e precisamos lembrar-nos sempre que nenhum
rótulo pode nos classificar de modo a abarcar todo o nosso ser, porque não
caberíamos completamente numa definição que já existe para outro fim ou outro
alguém. A única possibilidade de identificação de alguém é o seu próprio nome.
Qualquer outro rótulo ou acréscimo será secundário e redutor. Isso vale para
cada um de nós. Isso vale igualmente para cada uma das demais pessoas. E nos dá
a certeza cristalina de que sempre, e em todas as situações relacionais
possíveis, estamos nos relacionando com um ser que é único. Essa perspectiva –
a de que as pessoas que amamos e cujas atitudes e comportamentos muitas vezes
tão familiares são, na verdade, indivíduos a ser conhecido o tempo todo – são
de grande utilidade para compreendermos porque ocorrem tantas dificuldades nos
relacionamentos, especialmente nas relações amorosas. Somos iguais na necessidade
de nos relacionar, o que nos aproxima um do outro, mas, distintos em nossa
referência pessoal, o que dificulta a manutenção da harmonia na relação.
JUNG observa que o jovem – e mais a mulher do que o homem – já tem ao
atingir a idade adequada para o casamento, a consciência do “eu” recentemente
emergida do que ele chama nebuloso inconsciente inicial. E acrescenta que, para
tornar-se consciente de si mesmo, o indivíduo tem, obrigatoriamente, que
distinguir-se dos outros. Essa distinção é condição indispensável para o
surgimento de um relacionamento.
Mas ter consciência do “eu” não significa, na prática, total consciência
de si. Temos um conhecimento incompleto tanto de nós mesmos quanto dos outros,
de modo que nossa compreensão dos motivos que nos movem – e mais ainda dos
motivos que movem as demais pessoas – é insuficiente. Por esta razão, muitas
vezes somos
levados a agir impulsionados apenas por nosso inconsciente, embora tendo a impressão de que
sabemos o que estamos fazendo.
Por isso, quando nos
apaixonamos, tendemos a acreditar inicialmente que encontramos a pessoa ideal, possuidora
de todos os atributos capazes de despertar em nós admiração, amor e desejo,
satisfazendo totalmente as nossas aspirações amorosas. O que não sabemos, nessa
fase, é que alguns desses atributos que julgamos serem daquela pessoa são, na
verdade, conteúdos inconscientes da nossa própria psique que projetamos na
pessoa amada.
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