O comportamento hostil é mais simples do que o compotamento amoroso, logo mais frequente.
A irritação está por todos os lugares. O contato humano intenso estressa e passivos, insistimos em viver em aglomerados muito densos, onde as regras do viver são muito áridas e angustiantes. Tudo está por um triz! Por um nada a vizinha grita com o marido: maldiz, ofende. Ele revida, sem pudor e sem moral, usando o mais vil dos palavrórios, deixando claro que seu desejo é de que todos aqueles que o circundam compartilhem passivamente do desastre humano que ali se apresenta. Mais um amor fracassado, mais um casal que aceitou a degradação que o convívio desatento impões e obriga.
Carregamos em nossas costas o ânimo perturbado e levamos em nosso peito nosso espírito sempre arisco, disposto a uma contenda ou a uma fuga. (Emir Tomazelli- psicanalista do Instituto Sedes Sapientiae)
O gesto hostil requer apenas uma via de descarga, que é o agir, não carece de pensamento. O ato, a ação são próprios para isso: mexemos os músculos e nos livramos da tensão imediata acumulada- a inteligência ajuda a disfarçar a brutalidade maquiando a atitude manifestada. Por exemplo, a criança xinga a própria mãe. A mãe para revidar a brutalidade do filho, engole o sapo da raiva que lhe despertou e finge que o ama, mesmo que ele seja um estúpido com ela... Hum está feita a confusão! Ela fica desgastada pelo trabalhão que teve para conter-se e o garoto fica impune e equivocadamente cheio de razão. Egoisticamente certo. É aí que mora o perigo. A bondade materna se retorce transformando-se em tolerância, e o ato de brutalidade do pequenino infante é falsamente perdoado sob a rubrica pronunciada aos quatro cantos pela avó: " Mas gente! ele é só uma criança!". O cerco nesse ponto, se fecha e a ética que deveria ser orientada pelo que é o mais nobre vai pro vinagre e sofre um baque.
As vovós e alguns de nós preferimos uma negação psicótica da realidade e a produção de uma falsa bondade que propaga a proteção das mesmas crianças por quem, mais tarde, seremos espancados.
O agir de supetão ou do impulso não precisa da ajuda do pensamento. Infelizmente os atos agressivos são menos evoluídos que os que envolvem respeito, consideração, solidariedade.
Temos raiva à toa porque qualquer coisa que nos desorganize ou nos retire da chamada área de confronto - isto é, a área de não surpresa! - é suficiente para exigir de nós operações tantas e tão complexas que, para acessarmos esse nível, deveremos fazer um enorme esforço de adiamento, de contenção. Na verdade ninguém nos ensinou que o ato destrutivo já vem prontinho no Kit com o qual chegamos ao mundo ( continua Tomazelli) - este sim, é dádiva; nem que para sermos construtivos é necessário um esforço e uma capacidade de aprendizado e adaptação que de modo algum vem em um programa de fácil acesso. Longe de ser uma dádiva o amor e a fraternidade são conquistas, são batalhas vencidas no mundo diminuto do dia-a-dia.
Ter maturidade, saber esperar para permanecer calmo sem saber o que se está vivendo, ter serenidade para observar o que está acontecendo ao redor e paciência para formular pensamentos úteis em vez de fantasias que substituam a realidade são comportamentos que exigem muito de nós. Quanto mais infantis somos, mais raivosos, mais desrespeitosos. Quanto mais fechados em nosso narcisismo, menos sentido o outro humano tem.
Só mesmo pensando como Freud pensou o narcisismo, compreederemos que temos uma relação sensual e passional com nosso ego. Somos auto-apaixonados. Desejamo-nos mais que a qualquer um, estamos cegos ao outro pela que nossa autoconservação nos demanda. Damos muito menos do que podemos dar e do que teoricamente teríamos responsabilidade de dar. Mesmo que não façamos nada que aparente amor por nós, somos auto-devotados. Teimosos, renitentes, somos metódica e precisamente sempre nós mesmos, e impomos nossas regras ao outro; e se o outro não as aceita, impomos a ele o nosso desamor, o nosso ódio, o nosso rancor, nossa traição. Jogos egóicos, jogos menores, imposições do eu, esse é o mundo onde a raiva impera.
Há somente um caminho: desenvolvermos a fé em que darmos o melhor de nós nos faz melhor!
2 comentários:
Comentário anterior assinado pelo WALTER.
Esqueci, rsrs
É interessante observar que sempre se mostraram necessárias novas e rápidas fontes de informação para que a vida fosse melhorada, mas essa mesma informação parace sempre andar na pista oposta do ser humano. Mesmo com tanta internet e certas revoluções de outros meios de comunicação o que era uma "solicitação por falta de informação" hoje se torna uma "solicitação por falta de tempo"... Em suma, hoje temos informação até para quem quer "permanecer desinformado", em razão dessa enxurrada sensorial o que deveria ser considerado informação não passa de poluição. O ser humano, sabendo do fracasso de absorver tudo isso ou ao menos tentar entender como tudo ocorre simplesmente segue o caminho mais fácil que é justamente o caminho de fazer coisas erradas, o caminho da banalização, do vulgar. Quando me refiro a coisas erradas poderíamos entrar num novo debate quase sem fim, mas digo resumidamente (sem querer ser superficial) que considero "errado" (é a MINHA visão) tudo que de alguma forma piora a vida deste humano ou aquele outro. Seria tão bom se as webcams fossem voltadas para apresentar as diferenças entre as comunidades (internacionalmente dizendo) ou coisas belas e engraçadas do mundo mesmo que de vez em quando, mas essas mesmas webcams mostram meninas menores de idade nuas numa massagem de ego dilacerante no silencioso grito "Mundo, eu existo! Me respeite como sou e você sempre terá um pouco de mim, não esquecendo que DEVE me manter em destaque mesmo que eu não mereça" ou ainda termos mais espaço para mostrar o humano como ele realmente age e não no formato big brother brasil, ... Tudo bem que o errado sempre teve espaço, afinal de contas (mais uma vez sem querer ser superficial, apenas rápido) o que seria o mundo sem o errado? Mas ver TANTA coisa errada acontecendo num período em que o certo tem chances absolutas de prevalecer me faz confirmar: o ser humano não é preparado biologicamente para agir "do lado do bem" (como já disseram alguns filósofos) ou como anseiam as religiões e suas fantasias delirantes.
Cada briga de casal, cada mulher nua no carnaval, cada criança com dificuldades de aprendizado, cada vida perdida no tráfico, tudo isso e muito mais são singelos e monstruosos gritos de socorro que todos nós que escutamos ou emitimos nunca estaremos preparados para ouvir e decodificar.
Definitivamente é muito mais simples agir agressivamente ou "sem pensar".
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