Dizer que a morte
faz parte da vida nos faz pensar só no final, mas é muito mais presente do que
isso: a cada situação em que precisamos terminar algo para começar uma nova
etapa da vida, a morte está ali. Na Índia, a religião hindu tem uma trindade de
deuses, formada por Brahma, Shiva e Vishnu. Brahma é o criador de tudo, Shiva é
o destruidor e Vishnu o preservador. Parece meio sinistro um deus que destrói,
mas é através da destruição do que está gasto que há renovação, que é possível
nascer o novo. Não à toa, Shiva é o deus mais adorado na Índia, tendo muito
mais templos onde é cultuado, do que os outros deuses da trindade hindu.
Pode parecer absurdo o que eu
vou dizer, mas integre a morte em sua vida para que você possa viver mais
plenamente. Busque soluções para aqueles
problemas que vem adiando, como se o tempo não passasse. Perceba o que já
terminou em sua vida, e você não reconhece. Muitas vezes nos apegamos a
situações que já não fazem mais sentido, somente pela rotina.
Podem ser situações de
trabalho, de relacionamento, de hábitos. Viver tendo presente à perspectiva de
que morreremos não deveria trazer medo, mas acentuar a responsabilidade que
temos de fazer com que a nossa vida tenha o rumo que planejamos para ela.
Assim, podemos ser dignos de um dia morrer conscientes de que buscamos (mas nem
sempre conseguimos) realizar aquilo que é necessário da melhor forma possível.
Quando o Júri de
Atenas condenou Sócrates à morte, ao invés de lhe dar um prêmio, sua mulher
correu aflita para a prisão, gritando-lhe: "Sócrates, os juízes te
condenaram a morte". O filosofo respondeu calmamente: "Eles também já
estão condenados". A mulher insistiu no seu desespero: "Mas e uma sentença injusta!" E ele perguntou: "Preferias que
fosse justa?" A serenidade de Sócrates era o produto de um processo
educacional: a Educação para a Morte. É curioso notar que em nosso tempo só
cuidamos da Educação para a Vida. Esquecemo-nos de que vivemos para morrer. A
morte é o nosso fim inevitável. No entanto, chegamos geralmente a ela sem o
menor preparo. As religiões nos preparam, bem ou mal, para a outra vida. E
depois que morremos encomendam o nosso cadáver aos deuses, como se ele não
fosse precisamente aquilo que deixamos na Terra ao morrer, o fardo inútil que
não serve mais para nada.