Uma vasta gama de datas comemorativas que são
destacadas insistentemente pelos meios de comunicação e que podem catalisar
emoções, lembranças, desejos, frustrações, razão pela qual, devem ser levadas a
sério na Terapia.
“A humanidade desenvolveu CALENDÁRIOS como uma
tentativa de compreender, prever e até conquistar o TEMPO e, assim,
acalmar boa parte de nossos temores quanto a este conceito que parece fluir em
constante fuga, sendo a distância entre a causa e o efeito de tudo que
presenciamos. Estabelecer e seguir um calendário é adquirir a sensação de
segurança, de integrar-se ao ritmo do Universo e esta iniciativa é milenar e
comum a todas as culturas. …”
Além dos sistemas de medição da passagem do tempo, seja lunar ou solar, adotado pelas mais variadas culturas seculares, o indivíduo comum era alertado pelas evidências da natureza, quanto à chegada, por exemplos, da primavera, do inverno, enfim, momentos de mudanças, cuja ansiedade era aplacada com rituais religiosos.
Nos dias de hoje, perdeu-se boa parte da percepção da
passagem dos ciclos pela observação da natureza; porém, os meios de comunicação
suprem esta tarefa (quem sabe, em demasia...) de lembrar a todos os rituais de
cada período, geralmente por razões comerciais/mercantilistas e não mais por
motivações religiosas.
Para ilustrar: o mês de Junho, no hemisfério norte, é o
período do solstício de verão e, como o nome sugere, na mitologia grego-romanas,
era dedicado à deusa Juno (Hera...), em especial ao seu aspecto de defensora
das relações amorosas, casamentos e fidelidade. Com o advento da igreja
católica, em sua estratégia de incorporar os cultos já existentes, versando-os
aos seus interesses, os atributos da deusa Juno foram distribuídos a vários
santos “casamenteiros”: sendo São João e Santo Antônio, os mais populares no
Brasil e celebrados neste mesmo período. Tamanha é a popularidade destes ritos
em nosso país, que, ao “importarem” a data comemorativa do Dia Dos Namorados,
alteraram a data para coincidir com a véspera da homenagem a Santo Antônio. Este
feito é atribuído ao comerciante e publicitário João Dória, que investiu na
idéia por 10 anos seguidos, antes de sua consagração na sociedade brasileira.
A interferência dos
meios de comunicação também pesa na história do chamado Dia das Mães. Em todas
as culturas antigas, a maternidade era celebrada nos ritos da Primavera, como
era o caso da deusa Rhea, esposa de Cronus e mãe de Zeus. No cristianismo,
associou-se à imagem de Maria. Na modernidade, pesou a história da americana
Anna Jarvis, que organizou com grupo de amigas, homenagem à própria mãe
falecida, sensibilizando a sociedade a tal ponto que, em 1914, o presidente
formalizou a data de 9 de maio para todo o país. Por influência americana,
cerca de 40 países adotaram a idéia; no Brasil, foi introduzida pela Associação
Cristã de Moços (ACM) em 1918 e, em 1932, foi oficializada pelo presidente
Getúlio Vargas, como sendo o 2o domingo de maio.
Seja lembrados pela
Natureza, seja pelos veículos de comunicação (especialmente estes, nos dias de
hoje...), fato é que sentimentos e desejos são despertos, estimulados pelas
datas comemorativas.
No citado texto
“Obrigação de Ser Feliz”, tecemos considerações sobre o efeito das propagandas
que, praticamente “exigem” felicidade de todos, mesmo que não seja este o
momento do indivíduo e o quanto isto pode induzir a mascarar os sentimentos.
O mesmo poder de
“cobrança” pode ser acionado nas demais datas comemorativas. Toda a mídia
expondo casais felizes e sensuais no Dia dos Namorados pode ampliar a
frustração de quem não goza destes privilégios, ou aumentar a auto-ilusão
naqueles que não estão em condições de analisar profundamente a relação em que
vivem.... Publicidades do Dia das Mães chegam a (ab)usar até do sentimento de
culpa, ressaltando o quanto cada um deve à pessoa que lhes deu a própria vida e
que o presente deve ter valor proporcional a tamanha dádiva impagável... E
quanto àqueles que perderam estes entes queridos, sendo relembrados de sua dor
a cada capa de revista lida, a cada comercial na televisão, ou nas rádios...
Enfim, como profissionais
da Psicoterapia: Psicólogos e Psicanalistas, devemos conhecer as datas
comemorativas, bem como suas origens e o quanto podem influenciar o momento de
nossos Clientes/Pacientes, para que prestemos ainda mais atenção e assistência
quanto aos temas reforçadamente lembrados nestes períodos.
Texto adaptado por Jane
Sabino da Revista de Terapia Holística doSINTE