Estou lendo o livro de Zygmunt Bauman "Amor Líquido", sobre a fragilidade dos laços humanos, o qual recomendo, afinal toda a nossa vida é permeada por laços. O livro me foi gentilmente emprestado por uma amiga, e não pude deixar de registrar aqui algo sobre o telefone celular. Na verdade já percebi como ele é capaz de nos separar daquelas pessoas que não queremos ficar junto, como ele é capaz de nos livrar de situações embaraçosas, de "dar um tempo". Na verdade, todos os objetos têm uma outra finalidade. Bem, mas vamos a citação de Bauman. "Aos que se mantêm à parte, os celulares permitem permanecer em contato. Aos que permanecem em contato, os celulares permitem manter-se à parte". E Bauman faz uma brilhante citação de Jonathan Rowe, que nos lembra: " No final da década de 1990, em meio ao boom da alta tecnologia, passei algumas horas num café na área dos teatros de São Francisco... Observei uma cena recorrente lá fora. A mãe está amamentando o bebê. Os garotos estão beliscando seus bolinhos, em suas cadeiras, com os pés balançando. E lá está o pai, ligeiramente reclinado sobre a mesa, falando ao celular... Deveria ser uma -revolução nas comunicações-, e, no entanto, aqui, no epicentro tecnológico, os membros dessa família estavam evitando os olhares uns dos outros".
"Dois anos depois, Rowe provavelmente veria quatro celulares em operação em torno da mesa. Os aparelhos não impediriam que a mãe amamentasse o bebê nem que os garotos beliscassem seus bolinhos. Mas tornariam desnecessário que eles evitassem olhar-se nos olhos: àquela altura, de qualquer forma, os olhos já se teriam tornado paredes em branco--e uma parede em branco não pode sofrer danos por encarar uma outra. Com tempo suficiente, os celulares treinariam os olhos a olhar sem ver."